CCIAH reitera necessidade de “ajustes financeiros” na região e Paulo Portas aborda tendências geoeconómicas no Mundo e na Europa
O Presidente da Direção da Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH), Marcos Couto, salientou ontem, na Praia da Vitória, a necessidade de “ajustes financeiros” na região, defendendo mudanças nas relações com o Governo da República.
Apesar de reconhecer que os Açores “vivem um período de crescimento económico sem paralelo na história da Autonomia”, Marcos Couto sublinhou que este progresso é “comprometido pela dívida da Região” e “pela dificuldade do Governo em honrar suas obrigações com as empresas”.
Deste modo, defendeu, “é necessário realizar os ajustes financeiros que se impõem para que possamos mostrar ao Governo da República que estamos dispostos a fazer as coisas de forma diferente”.
“Se tomarmos medidas de ajustamento financeiro agora, num período de claro crescimento, isso afetará menos as pessoas e as empresas e garantirá o futuro das gerações vindouras”, prosseguiu.
Para Marcos Couto, a região precisa ter “coragem” de “apresentar um plano de ajustamento financeiro ao Governo da República antes que a situação se torne insustentável”.
Quanto à relação com a República, o Presidente da CCIAH considerou que a mesma tem de assentar na “amizade” e “compreensão recíproca”, não podendo ser de “hostilidade permanente”.
Reiterando posições anteriores, Marcos Couto referiu que não é possível mudar o quadro financeiro regional atual com “mais Estado, mais assistencialismo e mais despesa”, mas com “liberdade económica e com redução do peso do Estado na economia regional”.
Durante a sua intervenção, no Jantar do Empresário, organizado pela CCIAH, que decorreu no restaurante O Pescador, Marcos Couto voltou a defender a necessidade de “reformas profundas” na região, nomeadamente a privatização de empresas públicas regionais ou a a implementação de um “Simplex Regional”.
“Precisamos, inclusive, refletir sobre estratégias para aumentar a receita orçamental da região, revisitando, se necessário for, repito, se necessário for, políticas como a redução ao mínimo do diferencial fiscal ou a majoração de 5% ao salário mínimo regional”, concretizou.
O Presidente da CCIAH elogiou ainda os empresários das ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa, reconhecendo o seu “esforço, a dedicação e o talento” para o “crescimento da nossa economia e o avanço da sociedade”.
Este ano, o orador oficial do Jantar do Empresário foi Paulo Portas, cuja intervenção se focou nas tendências geopolíticas e geoeconómicas no Mundo, na Europa, em Portugal e nos Açores.
Paulo Portas abordou os cenários da economia mundial, fazendo referência às principais economias emergentes, ao posicionamento da Europa e Portugal num contexto de disputa comercial entre o EUA e a China e aos desafios que o continente europeu enfrenta.
Num discurso aguardado com elevada expetativa pelos mais de 60 empresários presentes, Paulo Portas lembrou os riscos de os EUA se fecharem sobre si próprios ao assumir políticas protecionistas e isolacionistas para a economia internacional, tendo exemplificado que a primeira Administração Trump deu abertura à China para controlar a área comercial do Pacífico.
Sobre a Europa, Paulo Portas secundou-se do Relatório Draghi, recentemente publicado, para frisar os principais desafios que o continente enfrenta, concretamente ao nível da demografia, da inovação, da produtividade e da defesa.
Face ao envelhecimento populacional transversal aos países europeus, o orador considerou a imigração regulada uma resposta importante a nível económico da qual Portugal e a Europa não podem abdicar.
Já sobre a inovação, insistiu que os países europeus estão ainda longe dos EUA ou de países asiáticos como Coreia do Sul, Japão ou China ao nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento pelo que esta terá de ser uma prioridade de futuro.
Quanto à defesa, e em resultado do conflito no leste europeu, Paulo Portas vincou que a Europa necessita de robustecer o investimento na sua capacidade militar.
Em relação aos Açores, o orador clarificou que a Base das Lajes é o “epicentro” da relação entre Portugal e os EUA, realçando todo o potencial geoestratégico que o arquipélago representa.
Durante o evento, foram entregues os Prémios José Inácio Cardoso aos vencedores da 4.ª edição deste prémio, organizado pela CCIAH em parceria com a CEMAH. Os vencedores foram os jovens Carolina Matos, natural da ilha de São Jorge e formada em produção agropecuária nível IV pela Escola Profissional de São Jorge, e a João Pedro Costa, natural da ilha Terceira e licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa.
Por razões pessoais, os vencedores não puderam comparecer e foram representados, respetivamente, por Cláudia Costa, mãe de João Pedro Costa, e Luís Silveira, Presidente do Município de Velas.
Entre outras entidades, este Jantar do Empresário contou com a presença da Presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Vânia Ferreira, do Presidente da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores, Alexandre Gaudêncio, do Presidente da Câmara Municipal de Velas, Luís Silveira, do Vereador da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Paulo Lima, do Presidente do Conselho de Administração da Caixa Económica de Angra do Heroísmo, António Maio, e do antigo Presidente do Conselho Económico e Social dos Açores, Gualter Furtado.