Açores devem "casar melhor" duas faces do desenvolvimento

A nova presidente do Conselho Económico e Social dos Açores (CESA), Piedade Lalanda, defende que os Açores têm se "casar melhor" o desenvolvimento económico e a dimensão social.

"Quando se fala do equilíbrio entre economia e sociedade, estamos a falar a este nível: Quais são os alicerces sociais que nos podem garantir um desenvolvimento económico mais sustentável e que potencie as nossas riquezas? Na área agrícola, nas pescas, no ambiente, na área, agora, do Espaço e das novas tecnologias... Há muito que os Açores podem fazer no futuro, mas temos de pensar com que recursos humanos, com que qualificações, com que condições de vida das pessoas", sustenta, em declarações prestadas, ontem, ao DI.

"É este tipo de horizonte... E depois temos taxas de pobreza muito mais elevadas do que a nível nacional, abandono escolar, desigualdades de remuneração. As duas faces dessa moeda têm de casar melhor, não deve haver um desencontro entre a nossa realidade social e a ambição que temos do ponto de vista económico", afirma.

A socióloga e professora da Universidade dos Açores, antiga secretária regional com a pasta da Solidariedade Social, tomou posse como líder do CESA na segunda-feira.

Argumenta que é preciso apostar em políticas que façam a diferença no rumo da Região e não aguardar apenas por alterações, que podem ser lentas.

"Em todas as áreas, sejam económicas, mas particularmente nas áreas sociais, há sempre mudanças. O problema maior é o ritmo da mudança. Se formos esperar que a mudança se vá fazendo quase naturalmente, vamos aguardar muitas décadas para que algumas desigualdades que nos afetam possam ser debeladas", vinca.

Piedade Lalanda dá como exemplos "as dificuldades de género, no âmbito da paridade das remunerações ou da presença de mulheres em lugares de chefia ou na própria atividade política", mas também "a questão do abandono escolar dos jovens".

"Se ficarmos à espera que este processo vá reduzindo lentamente, vamos ficar sempre aquém dos objetivos, até europeus", alerta, recordando que nos Açores "o abandono escolar precoce é três vezes maior do que a nível nacional, o que não faz sentido nenhum".

"Não podemos olhar para isto e dizer que o tempo irá curar estes problemas. É necessário ter estratégicas mais assertivas para uma mudança", reforça.

Uma das prioridades para os próximos anos, aponta, é dar uma resposta à crise demográfica, tanto com a captação de imigrantes, como com a fixação dos jovens açorianos.

Piedade Lalanda lembra que o último parecer emitido pelo CESA identificava a questão. "A perda de população que se registou nos últimos Censos e o envelhecimento que isso representa em alguns concelhos e algumas ilhas é um aspeto importante. Vai estar relacionado também com a baixa de mão de obra para fazer face, inclusive, até à execução das obras do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência)", assinala.

Favorecer o crescimento da imigração exige, defende, "políticas legais, com contratos de trabalho e condições de residência".

No que diz respeito aos jovens açorianos, sobretudo os qualificados, trata-se de melhores salários e perspetivas de construir uma carreira.

"Há uma estratégia que a Região também tem de fazer, de atratividade em relação aos jovens que se qualificam, mesmo na nossa Universidade ou nas escolas profissionais, mas que optam por não exercer na Região. São necessárias condições para segurar estes jovens", afirma a socióloga.

Considera que, neste caso, "às vezes não é uma questão só de salário, mas das perspetivas de carreira, de integrar o mercado de trabalho com horizontes".

"As empresas, não só as grandes como as pequenas, devem captar estes jovens", sublinha Piedade Lalanda.

 

Diário Insular (13/11/2024)