Estudo "é um bom começo e nada mais do que isso"
O presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH), Marcos Couto, considera que o estudo sobre os transportes marítimos de carga nos Açores é um "bom começo", mas há outros problemas a resolver.
"Encarar o estudo como a panaceia para a resolução de todos os problemas do transporte marítimo parece profundamente errado, desde logo porque, seja qual for o modelo que vier a ser escolhido, não existe forma objetiva e concreta de fazermos uma fiscalização e fazermos com que os armadores cumpram com aquilo que está estabelecido", afirmou, ontem, Marcos Couto.
Questionado sobre o estudo, o presidente da associação empresarial das ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge disse que "é um bom começo e nada mais do que isso".
"É importante começarmos a definir que modelo queremos em termos de como é que as mercadorias chegam aos Açores, por onde entram e por onde saem. É importante que tenhamos esse princípio assente, agora não é mais do que isso, um princípio", salientou.
Segundo Marcos Couto, "há uma quantidade de assuntos que têm de ser resolvidos", como "a questão da gestão portuária, as tarifas, a questão da pilotagem" ou "o desenvolvimento do mercado interno", aos quais o estudo "não dá respostas".
"O estudo indica caminhos, mas agora preocupa-me que se comece a olhar para este estudo como a resolução de todos os problemas", frisou.
O empresário alertou, por exemplo, para a falta de fiscalização do serviço prestado, alegando que "a câmara de comércio desde 2016 que vem apresentando queixas sucessivas ao IMT [Instituto da Mobilidade e dos Transportes] pelos atrasos que têm existido e nunca nada se alterou".
"Estamos num mercado em que não há qualquer interferência da parte do Governo dos Açores, não temos forma nenhuma de controlar e fiscalizar se os armadores cumprem ou não com essas obrigações. Essa é uma responsabilidade do IMT e sobre o IMT o Governo Regional não tem qualquer possibilidade de exercer influência", sublinhou.
O relatório da comissão especializada independente nomeada pela secretaria regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas com a tarefa de propor o modelo mais adequado para o transporte marítimo de mercadorias nos Açores, a que o DI teve acesso, conclui que o cenário "que se afigura de mais fácil implementação" assenta numa rotação a 14 dias, com uma escala semanal em todas as ilhas.
A rotação, semelhante à atual, continuaria baseada em sete navios. A novidade seriam os toques semanais em Santa Maria, Graciosa, Flores e Corvo.
Outra hipótese colocada é um chamado "modelo misto", que, segundo a comissão "alia à realização de uma escala semanal em todas as ilhas, um reforço das ligações entre os Açores e o continente, o que permitirá aumentar a oferta à disposição dos vários agentes económicos e, em particular, a colocação de produtos frescos ou refrigerados no continente ao final da semana, contribuindo para a maior competitividade de algumas indústrias exportadoras".
Citada numa nota de imprensa, a secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, Berta Cabral, defendeu que a introdução de mudanças no atual modelo de transporte marítimo de mercadorias nos Açores deve avançar sem "disrupções".
"A evolução do processo deverá ser baseada numa melhoria contínua, sem disrupções, com uma mudança gradual, racional e segura, que não coloque em causa o abastecimento a nenhuma ilha dos Açores em nenhum momento", afirmou.
Diário Insular (12/10/2024)