Com este modelo de transportes a economia não vai crescer
O presidente do Conselho de Ilha da Terceira, Marcos Couto, considera que a região deve ponderar lançar um concurso público internacional para o transporte marítimo de passageiros e alerta que com o atual modelo a economia da ilha não vai crescer.
"É altura de começarmos a pensar que é melhor lançarmos um concurso público internacional, apenas com um operador, com um serviço muito bem definido e dar a devida indemnização financeira a essa companhia", sugeriu, ontem, o presidente do Conselho de Ilha da Terceira, numa reunião do órgão consultivo que decorreu na Praia da Vitória.
Marcos Couto disse que o transporte de mercadorias para a região é, neste momento, "um oligopólio absolutamente descontrolado".
"Ninguém fiscaliza nada, há uma cartelização clara entre os três operadores, só que a região, porque não tem de dar qualquer tipo de pagamento pelo serviço que tem, opta por fazer como Pôncio Pilatos e lavar daí as mãos", afirmou.
Segundo o presidente do Conselho de Ilha, reeleito ontem, a região "não quer pagar" pelo transporte de mercadoria por via marítima para os Açores e, por isso, vai encomendando estudos, mas "nunca decide nada".
"Nunca houve coragem política de fazer rigorosamente nada no que diz respeito a este assunto", frisou.
Para Marcos Couto, "se o mercado não tem escala para que as coisas funcionem de outra forma", como alegam os operadores, deve ser aberto um concurso público internacional, mas que tenha "muito bem definido o que são as obrigações, [o navio] entra por onde, sai por onde e quando não cumpre [os horários] o que é que paga ou o que é que deixa de receber".
"A economia da região e da ilha Terceira, claramente, não vai crescer enquanto isto não for alterado", vincou.
O deputado do Chega, Francisco Lima, foi o primeiro a falar em "cartelização de preços" e a alertar para a "situação catastrófica" do atual modelo.
"Estamos mal, andamos com demasiados estudos e passados 20 anos estamos iguais, a caminho de piorar", frisou, criticando a falta de investimento das empresas que efetuam o serviço nos navios que operam para os Açores.
Helga Barcelos, que exporta carne da Terceira, deu um exemplo que ocorreu recentemente, para mostrar como o atual modelo penaliza os empresários.
"À última da hora o navio que era para sair da Terceira na sexta-feira, passou a sair no sábado, mas teve de voltar a São Miguel e já só ia chegar a Lisboa na quinta-feira. Navios que levam carcaças com oito dias de validade, significa que já vão chegar ao destino final sem validade", explicou.
Segundo a empresária, "não serve de nada ver no orçamento dinheiro para ir a feiras fazer a divulgação dos produtos alimentares, se não temos de antemão estudada a forma de colocar os produtos lá".
"Preocupa-me a falta de coragem política de perceber, de uma vez por todas, que é no transporte marítimo e aéreo que está o desenvolvimento da nossa região", frisou.
Paulo Barcelos, da associação Os Montanheiros, defendeu a criação de um hub de redistribuição para o grupo central na Terceira.
"Geograficamente mete-se pelos olhos dentro como as coisas devem ser feitas, mas em termos populacionais as coisas são feitas sempre de outra forma, por uma questão de quantidade de votos, provavelmente", apontou.
Já Marcelo Pamplona, deputado municipal de Angra do Heroísmo e antigo comandante da Marinha, defendeu que é preciso de criar um tráfego regional de mercadorias, com empresas, com capitais públicos e privados, que possam ter "uma frota mais pequena, mais equilibrada, que possa fazer baldeação para as outras ilhas, em condições de tempo e custos razoáveis.
Para o conselheiro, tendo em conta a distância das ilhas e o tempo que as embarcações levam do continente aos Açores, "fazia muito mais sentido os navios de cabotagem irem para São Miguel e os navios de tráfego regional fazerem a baldeação para as ilhas".
Paulo Luís, presidente da Assembleia Municipal da Praia da Vitória, alertou que havendo uma alteração do modelo, é preciso definir quem vai assumir os seus custos, lembrando que teria de haver uma compensação às empresas de transportes locais.
"Implica investimento no tráfego local e na reconfiguração dos navios que neste momento existem", reforçou.
Diário Insular (08/10/2024)