Governo Regional nega atribuição de subsídios à Google

A Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) questionou, ontem, em comunicado de imprensa, se o Governo Regional comparticipou a amarração do cabo submarino da Google na ilha de São Miguel e em que montante. Em resposta, o executivo garante que não atribuiu qualquer apoio à empresa.

"Pelo histórico é claro que não foi a Google que escolheu os Açores, mas sim os Açores que procuraram a Google, o que é perfeitamente legítimo.

A questão é saber quanto é que isto custou à região, quem pagou e quais as implicações no cabo CAM [Continente-Açores-Madeira], que, pelo que é público, ainda não tem financiamento garantido", afirmou a direção da CCAH, em comunicado de imprensa.

O cabo submarino da Google, designado por "Nuvem", que vai ligar os Estados Unidos da América a Portugal, com amarração nas Bermudas e nos Açores, foi apresentado na sexta-feira, em Ponta Delgada, e foi considerado um projeto de "relevante interesse público" pelo Governo Regional.

A associação empresarial das ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa, manifestou "satisfação" com o anúncio do investimento, que "alavancará a economia da ilha de São Miguel", mas pediu mais transparência no processo.

"A CCAH não pode deixar de lamentar a falta de informação e transparência que continua a assolar a política regional. O povo dos Açores votou na mudança, mas não é isso que temos vindo a assistir. O cabo Google é apenas mais um exemplo da continuidade de políticas e mentalidades com a pressão lobista e de desintegração", apontou.

Os empresários alegam que um cabo como o "Nuvem" custa a preços de mercado "de 60 a 100 milhões de euros" e que "foi assumido pelo Governo das Bermudas que existiu um custo financeiro associado à amarração" no país.

"Tendo a consciência de que no mundo dos negócios não existem situações de favorecimento sem qualquer tipo de contrapartidas, e considerando o facto do projeto inicial do cabo 'Nuvem' nunca ter contemplado os Açores, o que se questiona é quem pagou, numa região com conhecidas grandes dificuldades financeiras, a amarração do cabo e quanto custou?", perguntaram.

A CCAH quer saber como é que o cabo de uma empresa privada teve "prioridade sobre o cabo CAM, que serve todas as ilhas dos Açores e cujo financiamento ainda não está garantido", questionando sobre quando avançará a "anunciada substituição" do cabo que liga continente, Açores e Madeira.

Pede ainda explicações sobre se o alegado apoio à Google foi assegurado "exclusivamente pelo Governo da República" e que impacto terá na instalação do cabo CAM e no apoio do Estado "à difícil situação que as finanças da região atravessam, com graves atrasos nos pagamentos aos empresários".

A associação empresarial revelou, por outro lado, que, em 2015, a Google esteve interessada em instalar um cabo semelhante, mas amarrando-o à ilha Terceira, projeto que acabou por não avançar.

"Na altura foi solicitado pela companhia um apoio/investimento, ao Governo dos Açores de 40 milhões de euros. A resposta dada pelo executivo de então foi de que ou o cabo era amarado em São Miguel, o que não interessou à companhia, ou não havia amarração do mesmo. Resultado: o cabo não passou pelos Açores", denunciou.

Investimento privado

Em reação, o vice-presidente do executivo garantiu que "não houve nenhum apoio do Governo Regional à Google".

"É um investimento privado que a Google está a fazer nos Açores e se a Google escolheu os Açores para amarrar um cabo devia ser motivo de satisfação de todos os açorianos e, sobretudo, das empresas", afirmou.

"Se houvesse um investimento desse montante, naturalmente, haveria no orçamento, no plano regional, referência a esse montante. 40, 50, 60 milhões de euros não passam assim escondidos. Nenhum presidente do governo, nem deste governo nem do outro, nem nenhum Conselho de Governo conseguiria aprovar isso sem ter verba cabimentada. Se fossem fundos comunitários mais fiscalizados ainda seriam", acrescentou.

O vice-presidente do executivo disse que não podia "responder pelo Governo da República", mas assegurou que "não houve nenhum investimento do Governo Regional, nem nenhuma subsidiação a Google".

"Eu acho que o senhor presidente da Câmara de Comércio de Angra deve apresentar os documentos comprovativos das afirmações que faz, sob pena de estar a faltar à verdade e isso é muito grave", declarou.

Artur Lima rejeitou ainda que o cabo da Google tenha tido "prioridade" sobre o cabo CAM, alegando que o contrato de implementação "foi assinado em março".

Quanto ao interesse da Google em amarrar o cabo na ilha Terceira, em 2015, Artur Lima disse que só responde pelo presente, mas que não tem qualquer referência ou documento sobre essa possibilidade.

"Não houve nenhuma tentativa de pressão para que o cabo amarrasse em São Miguel. Foi uma escolha da Google, técnica", vincou.

 

Diário Insular (31/07/2024)