Comunicado Cabo Google nos Açores
A CCAH vem por este meio manifestar a sua satisfação com o anúncio da instalação do Cabo da Google nos Açores, nomeadamente na Ilha de São Miguel, município da Lagoa. Estamos certos de que é um investimento que em muito alavancará a economia da Ilha de São Miguel. Não obstante toda a nossa satisfação, existem várias questões que são importantes esclarecer e que até agora não o foram, por quem tem a obrigação de o fazer, ou seja, os nossos governantes com as responsabilidades da área.
Como é do conhecimento público, em 2015 esta mesma empresa, Google, esteve interessada em instalar um cabo semelhante, mas amarrando-o à Ilha Terceira. Na altura foi solicitado pela companhia um apoio/investimento, ao Governo dos Açores de 40 M de euros. A resposta dada pelo executivo de então foi de que ou o cabo era amarado em São Miguel, o que não interessou à companhia, ou não havia amarração do mesmo. Resultado: o cabo não passou pelos Açores.
Assim, consideramos essencial esclarecer:
Notas prévias:
1 - O custo de amarração de um cabo como o “nuvem”, a preços de mercado, é de 60 a 100 milhões de euros.
2 – Muito embora não publicado, foi assumido pelo Governo das Bermudas, que existiu um custo financeiro associado a amarração do cabo “nuvem” neste país;
Questões:
1 – Partindo da nota prévia ponto 2 e tendo a consciência de que no mundo dos negócios de que não existem situações de favorecimento sem qualquer tipo de contrapartidas, e considerando o facto do projeto inicial do cabo “nuvem” nunca ter contemplado os Açores, o que se questiona é quem pagou, numa região com conhecidas grandes dificuldades financeiras, a amarração do cabo e quanto custou?
2 – Qual foi a razão para a alteração, em 9 anos, do local de amarração do cabo Google?
3 – Partindo do princípio, que não é de todo certo, que o pagamento foi feito exclusivamente pelo Governo da República, qual o impacto, do pagamento da verba à Google, na instalação do cabo CAM, que serve todos os Açores, ao contrário do atual?
4 – Partindo do princípio exposto no ponto anterior, que não é de todo linear nem transparente, qual a repercussão deste pagamento no apoio do Governo português à difícil situação que as finanças da Região atravessam, com graves atrasos nos pagamentos aos empresários?
5 – Partindo na nota prévia 1, quem negociou com a Google e a mando de quem? Que papel teve o Governo Regional e os Deputados representantes dos Açores na Assembleia da República?
6 – Para quando a anunciada substituição do cabo CAM, esse sim com claras consequências da vida de todos os Açorianos?
7 – Como é possível que o presente cabo “nuvem” de uma empresa privada tenha tido prioridade sobre o cabo CAM, que serve todas as ilhas dos Açores e cujo financiamento ainda não está garantido?
8 – Em 2023 o Governo das Bermudas anunciou um Data Center para naquele país, fruto da amarração do cabo “nuvem” e que iria criar 20 postos de trabalho. A existência de uma nova amarração, antes da entrada na Europa (Sines), e a intenção anunciada de criar um Data Center na Lagoa, em São Miguel, vem retirar importância ao data center das Bermudas. Qual a compensação dada à Google e ao estado das Bermudas para a existência desta amarração? São questões que devem ser esclarecidas aos Açorianos, para que a harmonia e desenvolvimento equitativo se mantenha em prol dos Açores no seu todo.
Em suma, pelo histórico é claro que não foi a Google que escolheu os Açores, mas sim os Açores que procuraram a Google, o que é perfeitamente legitimo. A questão é saber quanto é que isto custou à região, quem pagou e quais as implicações no cabo CAM, que pelo que é publico, ainda não tem financiamento garantido.
Infelizmente a nossa cada vez mais frágil Autonomia está cheia de histórias mal contadas e financiamentos supostamente escondidos. Quem não se lembra, por exemplo, do que se passou com a Ryanair, em que a Região da Madeira, de uma forma transparente, investiu 3,5 milhões de euros e alguns açorianos alimentavam a ilusão de que não se pagava nada à companhia.
A CCAH não pode deixar de lamentar a falta de informação e transparência que continua a assolar a política Regional.
O povo dos Açores votou na mudança, mas não é isso que temos vindo a assistir.
O Cabo Google é apenas mais um exemplo da continuidade de políticas e mentalidades com a pressão lobista e de desintegração. Mantemos uma esperança, cada vez menor, na prometida mudança, mas que sempre acreditamos ser o caminho certo para os nossos Açores.