Empresas dos Açores recrutam trabalhadores em Cabo Verde
Os empresários açorianos recrutaram cerca de três dezenas de funcionários em Cabo Verde, desde 2022, através de um acordo entre a Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) e o Instituto de Formação Profissional (IFP) de Cabo Verde formalizado ontem.
"Trinta e tal pessoas já vieram para cá, mas a perspetiva é sempre de colocar mais pessoas. Temos de formar muita gente. A nossa taxa de desemprego ainda é alta em Cabo Verde. Nos jovens dos 15 aos 24 anos a nossa taxa de desemprego está nos 24%. Temos muita gente ainda à procura de rendimento", afirmou, em declarações aos jornalistas, o presidente do IFP de Cabo Verde, Paulo Santos.
O responsável está na ilha Terceira para conhecer as condições de trabalho dos emigrantes cabo-verdianos recrutados através da CCAH, com quem assinou um protocolo para formalizar um acordo iniciado em 2022, que passa pela colaboração na formação profissional, mas também pela mobilidade profissional regular.
Falta de mão de obra
Segundo o presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, Marcos Couto, o recrutamento através da associação empresarial permite assegurar que a contratação é feita com garantias de transparência, legalidade e estabilidade, tanto para empresas como para funcionários.
"Sabemos que nestas coisas da mobilidade há sempre alguém que se tenta de alguma forma aproveitar destes processos e em Cabo Verde, quem está a ser recrutado pela câmara de comércio, por este processo de ligação que tem com o IFP, sabe que tem garantia total de chegar a Portugal e aos Açores com um processo perfeitamente transparente, com um processo 100% legal e que permite estabilidade", garantiu.
Para além de agilizar a parte burocrática, a associação empresarial faz também um "acompanhamento informal" na região, "no sentido de que haja integração social e qualidade nas interações que se estabelecem nas próprias empresas". Tem ainda uma delegação na cidade da Praia, em Cabo Verde, para facilitar as ligações à família dos emigrantes e às instituições cabo-verdianas.
"A sociedade de um modo em geral olha para o empresário como o mau da fita. Todo e qualquer empresário preza de forma essencial o bem-estar dos seus colaboradores. Sem colaboradores satisfeitos não há sucesso nas empresas", salientou o presidente da CCAH.
Segundo Marcos Couto, é sobretudo na área da restauração e hotelaria que há recrutamento de trabalhadores em Cabo Verde, mas também em profissões como técnicos especializados de ar condicionado e torneiros mecânicos.
"A região vive um processo, fruto do crescimento do turismo, de quase de pleno emprego. Temos perfeita consciência de que quem neste momento está nos centros de emprego são muitos daqueles desempregados crónicos e com algum tipo de problemas para as próprias empresas. Isso é importante que seja assumido publicamente e que as empresas precisam de outro tipo de mão de obra. Este protocolo permite procurar nas mais diversas áreas colaboradores", apontou.
O representante dos empresários das ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa revelou que começam já a chegar pedidos de outras ilhas, no sentido de a CCAH liderar estes processos de recrutamento.
Marcos Couto destacou a "formação de grande qualidade" em Cabo Verde e os "valores e identidade" semelhantes entre os povos das duas regiões.
Aposta na formação
O presidente do IFP de Cabo Verde vê "com bons olhos" a emigração de cabo-verdianos para os Açores, "porque as pessoas estão a ter rendimentos e estão felizes".
"Cabo Verde é um país de emigração. A remessa dos emigrantes contribuiu para mais de 15% do PIB [Produto Interno Bruto] em Cabo Verde. Mais de 60% dos depósitos bancários em Cabo Verde são dos emigrantes, é um fator extremamente importante para o processo de desenvolvimento económico e social de Cabo Verde", frisou.
Na visita à ilha Terceira, Paulo Santos vai visitar algumas empresas que já contrataram trabalhadores cabo-verdianos para "perceber quais são as dificuldades" e encontrar soluções em áreas como a habitação e o acompanhamento de familiares.
O presidente do IFP salientou, no entanto, que há uma ligação cultural e linguística entre Cabo Verde e Portugal que facilita a adaptação dos emigrantes.
Segundo Paulo Santos, por ano, são formados "mais de 5.000 jovens" em Cabo Verde, nas escolas de hotelaria e no centro de formação e manutenção industrial.
Diário Insular (24/07/2024)