Economia de São Jorge afetada pela greve da Atlânticoline

Empresários de São Jorge estimam que a greve da Atlânticoline, prevista entre 12 de julho e 12 de agosto, poderá ter impactos económicos superiores a um milhão de euros por semana.

O Núcleo Empresarial da Ilha de São Jorge (NEISJ) alertou ontem para os impactos económicos que a greve da operadora marítima açoriana Atlânticoline poderá causar na economia local, estimando que ultrapassem um milhão de euros por semana.

De acordo o NEISJ, a paralisação “quase total do transporte marítimo de passageiros comprometerá gravemente a experiência dos visitantes e a sustentabilidade de centenas de empresas locais” na ilha de São Jorge.

O sindicato que representa os maquinistas da Atlânticoline apresentou um pré-aviso de greve, entre 12 de julho e 12 de agosto, alegando que a administração da empresa não está a cumprir com o pagamento de horas extraordinárias.

Entre março e abril, a Atlânticoline cancelou mais de 50 viagens entre as denominadas ilhas do Triângulo (Faial, Pico e São Jorge), devido a uma greve dos maquinistas, que exigiam melhores condições salariais.

Na nota agora divulgada, o núcleo empresarial alerta que a greve “dificultará a mobilidade interilhas, resultando em cancelamentos e alterações de planos de viagem por parte dos turistas”.

“Estima-se que mais de metade das viagens previstas sejam afetadas, comprometendo a facilidade de deslocação essencial para o turismo regional dado que uma grande parte dos turistas utiliza o transporte marítimo para viajar entre as ilhas”, refere o NEISJ.

Relativamente aos prejuízos económicos, os empresários identificam impactos nas unidades de alojamento, restaurantes, empresas de animação turística, empresas de aluguer de viaturas e outras atividades relacionadas, que “irão sofrer uma diminuição significativa nas suas receitas”.

De acordo com os empresários, a “queda no número de turistas impactará diretamente os negócios locais, que dependem do fluxo contínuo da época alta para manter as suas operações e postos de trabalho”, sendo que “os impactos na economia local ultrapassarão certamente um milhão de euros por semana”.

O NEISJ identifica ainda “danos em termos de imagem e promoção”, sustentando que a “facilidade de mobilidade entre ilhas é determinante na escolha do destino Açores, um fator que fica gravemente comprometido e criará experiências negativas cujo impacto futuro a médio e longo prazo não é mensurável”.

Além disso, acrescentam os empresários, o “aumento nos pedidos de cancelamento e reembolsos sobrecarregará as agências de viagens e operadores turísticos, criando um ambiente de incerteza e frustração em relação ao destino, comprometendo a organização de operações que incluam o arquipélago no futuro”.

“Embora reconheçamos o direito à greve, é fundamental que tal direito não prejudique centenas de empresários que aguardam a época alta para assegurar a sustentabilidade das suas empresas e a manutenção de postos de trabalho. A continuidade desta situação poderá causar danos irreversíveis que levarão anos a ser superados”, alerta o núcleo empresarial.

O NEISJ considera que “tendo em conta o histórico da postura dos trabalhadores da Atlânticoline que, de forma abusiva e reiterada, prejudicam a empresa e a débil economia das ilhas que servem”, aconselha-se “vivamente que o Governo Regional pondere alternativas como a requisição civil ou, futuramente, a privatização da empresa”.

Ainda na sexta-feira, os empresários do Faial e do Pico alertaram para o impacto que uma nova greve na empresa pública de transporte marítimo de passageiros e viaturas Atlânticoline terá na economia das duas ilhas, representando “uma machadada” no turismo.

“Esta hipotética greve da Atlânticoline, entre 12 de julho e 12 de agosto, é efetivamente uma machadada forte no turismo desta zona geográfica e vai fazer com que muitos dos investimentos que foram feitos tenham prejuízos substanciais”, advertiu o presidente da Câmara do Comércio e Indústria da Horta (CCIH), Francisco José Rosa, em conferência de imprensa, na ilha do Faial.

Também o presidente da Associação Comercial e Industrial do Pico (ACIP), Rui Lima, lamentou o impacto negativo que a paralisação dos transportes marítimos de passageiros interilhas poderá vir a ter em termos turísticos para o Faial e para o Pico.

“Só ouvir falar da greve já torna o tecido empresarial nervoso”, salientou o empresário do Pico, lembrando que se não se conseguir assegurar “qualidade e previsibilidade” no período de verão “há um trabalho brutal e considerável que vai por água abaixo” e apelando, por isso, a um acordo entre a administração da empresa e o Sindicato da Marinha Mercante.

Já o presidente da Associação de Turismo Sustentável do Faial (ATSF), Pedro Rosa, lembrou que os trabalhadores da Atlânticoline estiveram em greve há apenas três meses, considerando que uma nova paralisação poderá ter impactos “demasiado severos” para quem depende dos transportes marítimos.

 

Açoriano Oriental (09/07/2024)