Novo Presidente do Grupo SATA causa perplexidade e desilusão

Conhecido que está o nome do novo presidente do Grupo SATA, a Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) não pode deixar de se juntar ao sentimento de perplexidade e desilusão que invade todos os açorianos, depois de ter estado nos últimos meses à deriva.

Numa altura em que a nossa companhia aérea necessitava de uma liderança assertiva, determinada, robusta e tecnicamente credível, somos todos surpreendidos pelo contrário. Uma decisão política, tecnicamente desconhecedora e ferida de morte ao nível da sua credibilidade para o desempenho da função, considerando que o nomeado é funcionário do grupo VINCI, empresa que gere alguns dos aeroportos regionais e nacionais.

Não está, pois, em causa a idoneidade da pessoa nomeada, mas sim o perfil para o cargo, ou melhor, a sua desadequação para o cargo de CEO do Grupo SATA, por se encontrar ferida do dever de imparcialidade, precisamente por ser empregado da VINCI.

Estamos perante uma pessoa que será indubitavelmente colocada perante a impossibilidade prática de cumprir o dever de lealdade entre dois patrões – Governo Regional e VINCI – com interesses empresariais existentes e completamente antagónicos. Desconfiamos que as escolhas que o novo CEO da SATA terá de fazer nos próximos meses serão certamente difíceis...

Sendo funcionário do grupo VINCI, Rui Coutinho terá um imenso constrangimento em agradar a “Gregos e Troianos" e, por isso, não pode assegurar total isenção nas decisões que impliquem a melhor utilização da rede de aeroportos e destinos do Grupo SATA, pois podem ir contra o natural negócio e interesses da VINCI, que é o de maximizar a exploração dos aeroportos sob a sua alçada, com um claro prejuízo para a Ilha Terceira, o seu aeroporto e as ligações ao exterior. Facto que nos deixa uma enorme preocupação.

Estando a exercer funções num cargo em que está a prazo, é natural assumirmos que nada mais fará do que agradar ao seu verdadeiro e único patrão (VINCI), facto que já era visível no seu desempenho como diretor regional, de onde não se conhece uma única decisão que não tenha sido a de aprofundar as desigualdades entre ilhas dos Açores, nomeadamente ao nível dos transportes marítimos e aéreos.

Depois de um período em que a companhia foi gerida com competência e conhecimento técnico, esta nomeação representa um retrocesso técnico e civilizacional de 10 anos, levando-nos para os tempos em que decisões ruinosas como a presente levaram a companhia para onde ela infelizmente se encontra neste momento agonizante.

Preocupante é, também, a nomeação de um “conselho estratégico”, do qual se depreende que não foi ponderado na decisão da sua nomeação o facto de o novo CEO da SATA dever ter uma visão estratégica e empresarial para o grupo com vista à sua recuperação.

Este “conselho estratégico” é antes um alijar de responsabilidades por parte da Tutela, pois nada acrescenta e só vem causar ruído, sendo apenas mais uma voz a pronunciar-se sobre assuntos que desconhece, em matérias que deveriam ser discutidas internamente pelos profissionais do sector, e quem sabe a intrometer-se na gestão da companhia através da emissão de pareceres ou recomendações, cujo “estatuto” os obriga a serem ouvidos pelo Conselho de Administração.

Apesar das preocupações expressas, acreditamos firmemente na resiliência dos seus profissionais e consequentemente na capacidade de recuperação da nossa SATA. Com um processo de privatização conduzido de forma transparente e realista, esperamos que a SATA (S4) e os serviços de handling possam, em breve, transitar para as mãos dos privados, sob uma administração com cariz técnica e profissional. Este passo será crucial para garantir a sustentabilidade e o crescimento contínuo do grupo empresarial, assegurando que continuem a servir os Açores e os açorianos com excelência e dedicação. Com determinação, bom senso e uma gestão transparente e idónea, estamos confiantes de que o grupo SATA poderá superar os desafios atuais e prosperar no futuro próximo.

Uma última palavra de apreço e agradecimento para o elenco liderado pelo Eng. José Roque, que de forma estoica e abnegada, num momento muito difícil da companhia, a manteve em funcionamento ultrapassando com maestria os momentos difíceis pela qual passou.

Angra do Heroísmo, 01 de julho de 2024.
A Direção da CCAH