Semana de 4 dias de trabalho preocupa Câmara do Comércio
O presidente da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH), Marcos Couto, defende que a semana de quatro dias de trabalho não se adequa à realidade do arquipélago e encara a proposta que consta no Programa do Governo com "preocupação".
Segundo o Programa do Governo, documento já aprovado no Parlamento Açoriano, trata-se de "avançar, inicialmente com um projeto-piloto, para a semana de 4 dias/teletrabalho, extensível igualmente ao setor privado".
Este projeto seria aplicado "sempre em comum acordo entre o trabalhador e o empregador, para melhor conciliar a vida profissional com a vida pessoal e familiar do trabalhador".
Marcos Couto subscreve a posição já tomada pela Câmara do Comércio dos Açores. "Não conseguimos perceber como é que numa região com índices de produtividade tão baixos, com falta de mão-de-obra, com um acréscimo ao salário mínimo nacional de 5%, com os custos de contexto que temos, como é que é possível uma proposta deste tipo", afirma.
Marcos Couto ressalva que "ainda falta perceber a operacionalização", mas frisa que as empresas açorianas deparam-se com escassez de trabalhadores e "produtividades baixas".
"Como é possível reduzir ainda mais os tempos de trabalho? Julgo que terá efeitos muito negativos no que é a produtividade das empresas", vinca.
Marcos Couto aponta que essa realidade obrigaria a "adaptar" salários. "Então, trabalha-se menos, ganha-se menos. Mas também não seria possível, porque os salários são fixados e não estou a ver como se pode baixar salários e retirar direitos adquiridos", salienta.
O líder da estrutura que representa os empresários considera que o passo pode ter um efeito inflacionário. "As empresas, para fazerem face à diminuição de produtividade, têm de aumentar os preços", refere.
No entanto, a CCAH não fecha completamente a porta a debater a proposta com o executivo regional.
"Um 'não' logo à partida julgo que ninguém pode dar, mas vemos esta medida um pouco descontextualizada da realidade económica que os Açores vivem", reforça.
Foi já realizado um projeto-piloto a nível nacional, lançado em junho de 2023 e que decorreu ao longo de seis meses.
Os primeiros resultados do teste indicaram que 95% das empresas que participaram aprovaram a experiência. Os trabalhadores relataram uma descida significativa dos níveis de exaustão e uma melhor conciliação entre vida profissional e pessoal.
Marcos Couto admite que a semana de trabalho de quatro dias se adapte a outras realidades que não a açoriana: "Às empresas com maior número de trabalhadores, com outras taxas de produtividade e outros rendimentos que não são os que se verificam nos Açores".
Diário Insular (23/03/2024)