"Os empresários não são os bichos papões"

"Não vamos deixar de ser pobres e sair da cauda da Europa em todos os indicadores sociais enquanto o Governo, os governantes e as forças partidárias não entenderem que só com economia é que conseguimos ultrapassar aquilo que é o nosso atraso crónico". As declarações são do presidente da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH), ontem, ao DI.

Marcos Couto falava após, segunda-feira, o novo Governo Regional ter tomado posse. Para o líder da CCAH, os empresários não podem ser vistos como os "maus da fita", mas como agentes de desenvolvimento.

"É importante que o Governo perceba, e todos os políticos, que sem os empresários não vamos ter economia. Os empresários não são os bichos papões. Só através da economia é que os Açores ultrapassarão o seu subdesenvolvimento", vincou.

Devem ser prioridades para esta legislatura, apontou, a recapitalização do tecido empresarial regional e o próximo quadro comunitário de apoio, com uma "imprescindível necessidade de agilizar os processos".

Marcos Couto acrescentou que a formação é a outra área essencial. "Desde logo ao nível das escolas, daquilo que é a formação mais tradicional, mas também da formação contínua. Essa formação contínua tem que ser algo que está ao serviço das empresas e não um entrave ao seu desenvolvimento, como muitas vezes também ela é encarada", afirmou.

O facto do novo executivo regional assentar numa maioria relativa não é analisado pelo presidente da CCAH como um entrave.

"Não vemos esta questão das minorias parlamentares como um problema. O importante é que todos os partidos que compõem a Assembleia, e até a sociedade civil, comecem a perceber que, desde que exista responsabilidade e que se pense não no bem do partido e no bem individual, mas sim no bem comum, naquilo que é o desenvolvimento dos Açores, não é obrigatório que exista uma maioria", advogou.

Porém, a instabilidade terá o seu preço, considerou. "É necessário e diria que até obrigatório que os envolvidos nas decisões políticas percebam que as pessoas e também o tecido empresarial, não querem e não desejam estar sempre em processos eleitorais", sublinhou.

Quem "prejudicar o equilíbrio e aquilo que foi a decisão do povo, será fortemente penalizado numas próximas eleições", acredita Marcos Couto, que entende que "temos de aprender a viver em democracia".

"É algo a que os açorianos não estão habituados. Não precisamos de maiorias absolutas para viver em democracia. Precisamos de responsabilidade e isso é algo que não tem existido nos Açores, porque não estamos habituados a viver com esse sentido de responsabilidade. Estamos habituados a viver, sim, quase como pela ditadura da própria democracia", disse o presidente da CCAH.

 

Diário Insular (07/03/2024)