Produção da vinha duplicou e atingiu 560 toneladas em 2023

Depois de três anos com baixas produções, 2023 foi um bom ano para a produção de vinho certificado nos Açores, passando-se de 280 para 560 toneladas de uva vindimada.

A produção da vinha nos Açores duplicou em 2023 por comparação com o ano anterior, passando de 280 toneladas de uva vindimada para a produção de vinho certificado em 2022 para 560 toneladas no ano passado. Quer isto dizer que em 2024, o reflexo deste aumento será também o da duplicação da produção de vinho certificado com as várias denominações de origem dos Açores.

Em declarações ao Açoriano Oriental, o presidente da comissão executiva da Comissão Vitivinícola Regional dos Açores (CVRA), Vasco Paulos, afirmou que “o ano de 2023 foi um ano de contraciclo, depois de nos últimos anos, desde 2020, termos registado uma tendência de diminuição das produções, devido às condições climatéricas adversas que se fizeram sentir principalmente na altura da floração da vinha, o que fez com que 2020, 2021 e 2022 fossem anos francamente maus de produção”.

Vasco Paulos recorda que em 2023 a floração das vinhas decorreu de forma considerada “muito boa”, pelo que o presidente da CVRA admite mesmo que “a nossa expectativa era até a de que o aumento registado fosse mais do que duas vezes a produção do ano anterior”, um objetivo que só não foi atingido devido ao efeito da chuva em julho e agosto, “que provocou alguma quebra de produção”.

Relativamente à produção de vinho, Vasco Paulos explica que a maior quantidade será a do vinho branco com denominação de origem do Pico, “que é sempre o que tem maior expressão em termos de certificação pela CVRA”, lembrando que para além das outras denominações de origem já com tradição, como a do vinho da Graciosa ou dos Biscoitos, na ilha Terceira, também haverá em 2024 vinho certificado das ilhas de São Miguel, Faial e São Jorge. E há que contar ainda com o mais recente vinho certificado nos Açores, o de Santa Maria, uma ilha com “um grande potencial e que poderá ter uma palavra a dizer no panorama açoriano, a breve trecho, com vinhos de características diferentes”.

Na verdade, com a exceção das Flores e Corvo, devido sobretudo às condicionantes do clima, em todas as restantes ilhas dos Açores se pode produzir vinho, embora o grande destaque tenha de ir para a ilha do Pico, responsável por mais de 90 por cento de toda a produção regional.

A Comissão Vitivinícola Regional dos Açores regista atualmente 70 marcas de vinho certificado, “que se repercutem por mais de 120 referências comerciais”, explica Vasco Paulos.

O presidente da CVRA alerta, por isso, para a necessidade de “garantir os apoios à manutenção das vinhas, pagos e a tempo e horas, porque são a pedra basilar para que as pessoas não se sintam motivadas a abandoná-las”.

Perante o aumento da produção da vinha registado em 2023, Vasco Paulos alerta ainda para o desafio de reforçar este ano os mercados da exportação dos vinhos dos Açores, salientando a procura crescente em mercados como a Alemanha, oReino Unido e a Escandinávia, mas também na América do Norte, com destaque para o chamado ‘mercado da saudade’ ligado aos descendentes de açorianos e, mais recentemente, também na Ásia.

Refira-se que a Comissão Vitivinícola Regional dos Açores é a entidade responsável pela certificação do vinho produzido nos Açores com denominação de origem, mas também pela fiscalização, defesa e promoção do vinho açoriano.

Setor vitivinícola açoriano sofre com falta de mão-de-obra

O setor da vinha, a exemplo de outros setores agrícolas, também sofre atualmente com a falta de mão-de-obra, sendo este um dos fatores que faz com que não haja um aumento ainda mais significativo da produção de vinho nos Açores.

Em declarações ao Açoriano Oriental, o presidente da comissão executiva da Comissão Vitivinícola Regional dos Açores (CVRA), Vasco Paulos, alerta que “os produtores vitivinícolas encaram sérias dificuldades para garantir mão-de-obra suficiente para manter as áreas que neste momento estão em produção”.

Vasco Paulos lembra também que a mão-de-obra da vinha “tem que ter alguma especialização”, o que implica formação para se poder fazer corretamente as podas e a vindima e que apesar da boa procura pelos cursos de iniciação à vitivinicultura que têm sido abertos pelo Governo Regional, ainda assim a mão-de-obra não tem sido suficiente. Um dos problemas é também o facto de, com a exceção das grandes explorações, a mão-de-obra ser sazonal na maior parte das vinhas, concentrando-se nos períodos da poda, no início da primavera e da vindima, no final do verão.

Vasco Paulos admite, por fim, que os tratamentos fitossanitários - outro desafio em termos de mão-de-obra com que os vitivinicultores estão confrontados - possam vir a ser feitos com o recurso às novas tecnologias, nomeadamente através da utilização de drones.

 

Açoriano Oriental (26/01/2024)